A Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro desencadeou hoje (22) uma operação para apurar fura-fila na vacinação contra a covid-19 no Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, na região metropolitana do Rio. A denúncia apresentada pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren/RJ) diz que dois jovens, um rapaz de 16 anos e uma de 20 anos, filhos de uma coordenadora do hospital e enteados do diretor técnico da unidade teriam sido vacinados sem pertencerem a grupos prioritários para a imunização.
Agentes da Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DCC-LD) cumpriram mandados de busca e apreensão na unidade, que é administrada pela Organização Social (OS) Instituto Sócrates Guanaes, para apreender documentos que comprovem a denúncia. O titular da DCC-LD, delegado Thales Nogueira, disse à Agência Brasil, que após o recebimento da denúncia, na sexta-feira (20) houve uma diligência no hospital e os policiais recolheram planilhas de pessoas vacinadas na unidade. Em uma avaliação feita pela delegacia durante o fim de semana foram constatadas rasuras nas listagens, o que provocou suspeita nos investigadores.
Hoje durante a operação foram recolhidas mais planilhas de vacinação e listas com os nomes de profissionais que trabalham no hospital e de estagiários. Os nomes dos jovens na listagem estavam identificados um como estagiário de medicina e outro como acadêmico de medicina. Segundo o delegado, os comprovantes de vacinação dos dois foram encontrados nas buscas que os policiais fizeram nas casas da família, uma no bairro de Icaraí e outra em Itaipu, também em Niterói, onde estavam os enteados do diretor, um em cada casa. “Os jovens foram vacinados. A caderneta comprova que houve a primeira dose”, afirmou.
O delegado revelou que a partir de amanhã, a delegacia começará a ouvir a coordenadora que é mãe dos jovens, que também prestarão depoimento na companhia de responsáveis, além de funcionários do hospital. “O padrasto não será ouvido por enquanto. Ele será ouvido no final”, contou, acrescentando que antes do depoimento do diretor técnico será feito o cruzamento de dados com de empregados e de cargos que ocupam, incluindo acadêmicos, estagiários e residentes do hospital com os nomes das pessoas vacinadas. “Para saber se realmente são funcionários, quem são os estagiários e ao final o diretor vai ser ouvido para verificar se ele tem algum envolvimento”, disse, não descartando a possibilidade de ter outros casos como este dos jovens na unidade.
SES
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro informou que “está colaborando com as investigações da Polícia Civil para que todos os fatos sejam apurados de forma rigorosa e transparente”.
De acordo com a secretaria, apesar de considerar uma ação isolada, está sendo feito um reforço nos procedimentos adequados. “A SES não compactua com atitudes como esta e, embora seja uma ação isolada, está reforçando entre suas equipes o irrestrito cumprimento de Notas Técnicas já publicadas pela Subsecretaria de Vigilância em Saúde (SVS)”, diz a nota.
De acordo com a SES, o diretor técnico e a coordenadora de desospitalização do Hospital Estadual Azevedo Lima são funcionários da Organização Social Instituto Sócrates Guanaes (ISG). “Eles foram afastados de suas atividades para ampla investigação interna da denúncia”, indicou.
“A Secretaria reforça que preza pela transparência e correção nas ações de saúde pública. Todas as irregularidades apuradas serão encaminhadas à Polícia Civil e aos órgãos de controle”, concluiu na nota.
Nota do Instituto Sócrates Guanaes
Também em nota, o Instituto Sócrates Guanaes (ISG), informou que atualmente é gestor de nove unidades assistenciais no Brasil, em Goiás, em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Todas as unidades receberam doses da vacina para imunização dos colaboradores, seguindo à risca as determinações do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais”.
O ISG acrescentou que foi surpreendido pelas denúncias referentes ao Hospital Estadual Azevedo Lima relativas à iniciativa isolada de um dos diretores desta unidade. “O diretor envolvido no caso já foi afastado para ampla investigação interna da denúncia nos termos do Código de Conduta Ética e Política de conformidade do ISG. A entidade não compactua e não admite nenhum desvio de conduta de seus colaboradores e todas as medidas serão tomadas para apuração dos fatos e punição dos envolvidos”, garantiu a OS.
“O Instituto está à disposição de todos os órgãos competentes para qualquer esclarecimento necessário. O ISG é uma organização não governamental, com 21 anos de existência, sempre promovendo saúde digna, eficiente e transparente na missão de cuidar e salvar vidas”, completou.