Estudante faz vaquinha para pagar matrícula em faculdade de medicina e arrecada mais de R$ 20 mil

As possibilidades de ingressar em uma faculdade particular eram mínimas, ela sabia. Mesmo assim, a inscrição para uma prova de medicina que custava caro foi paga por um professor. Depois de fazer o vestibular e passar meses na lista de espera, sem expectativas, veio a aprovação. A matrícula, que Maria Fernanda Silveira descobriu custar R$ 19 mil, era um entrave insuperável e teria que ser feita em tempo recorde, mas foi paga graças à solidariedade de pessoas, que a maioria, ela nem conhecia.

A força de vontade da estudante de 21 anos tocou muitas pessoas. A aprovação em uma faculdade de medicina em Montes Claros era a realização de um sonho, mas ela não tinha condições de arcar com a despesa da matrícula. Os amigos, então, resolveram fazer uma vaquinha online e em menos de 48h, Maria Fernanda conseguiu arrecadar R$ 21.560, além do suficiente para efetivar a entrada na faculdade.

Em uma rede social, ela chegou a ter visitas de mais de 5 mil pessoas em um dia, que colaboraram compartilhando a causa e depositando dinheiro para ajudar com a matrícula dela através de um site de vaquinha online. “Foi, com certeza, uma corrente do bem. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo. Mudou a minha vida”, afirma.

O primeiro credor da vaquinha online foi um primo de Maria Fernanda, que também é médico e já passou por dificuldades financeiras. Tadeu Fernandes fez um depósito de R$ 1 mil e segundo a estudante, o pontapé inicial foi decisivo para que as pessoas acreditassem que daria certo.

“Além de ter acompanhado a história dela, o sonho dela é muito parecido com o meu. A gente compartilha de ter dificuldade financeira e de querer ter uma profissão que custa caro. Me imaginei no lugar dela. É difícil entrar, é difícil ser aprovado, difícil se estabelecer no curso. Tive o privilégio de ter bolsa na época que tentei, então resolvi retribuir. Quando vi a campanha dela, eu apoiei, mas confesso que achei que não ia dar pelo prazo, por ser muito dinheiro, mas todo mundo se solidarizou. Fiquei muito orgulhoso dela”, conta o médico.

No fim do mesmo dia, a campanha chegou a arrecadar quase R$ 13 mil. No dia seguinte, o valor total foi atingido e ultrapassado.

A estudante frequentou o segundo dia de aula nessa sexta-feira (18). “Na hora da matrícula, eu desabei de chorar. Todo mundo me reconheceu quando eu cheguei, os veteranos comemorando que tinha dado certo. Nos corredores as pessoas gritavam ‘olha a menina da vaquinha!’. Fiquei muito emocionada com tudo”, diz. Para concluir o curso, Maria Fernanda vai tentar financiar as mensalidades pelo Fundo de Financiamento Estudantil (FIES).

Trajetória

Filha de professora de escola pública e agricultor, a estudante tentou entrar em um curso de medicina durante três anos. Natural de Francisco Sá, Maria Fernanda se mudou para Montes Claros para estudar. Durante todo o dia, a estudante trabalhava em uma loja de perfumaria e o tempo que sobrava era para se dedicar aos livros. Nas madrugadas, ela se revezava entre dormir e estudar, já que, no restante das horas, assistia aulas ou fazia vendas.

Maria Fernanda afirma que não tinha esperanças de conseguir um dia se ingressar em uma faculdade particular de medicina, por saber que não teria condições de arcar nem com a inscrição, que custa em média R$ 300. Tudo começou quando ela se saiu bem em um simulado do cursinho em que fazia aulas, e o professor se ofereceu para custear a prova.

“Eu nunca iria tentar, porque tinha feito uma vez e fiquei frustrada por não ter ido bem, além de saber das condições de matrícula. O professor me ofereceu para pagar, me buscou em casa para que eu fosse fazer a prova, e foi irrecusável. Eu respondi ‘Tom, eu não estou preparada, não estudo para esta prova’, mas ele insistiu e eu fui. Achei que seria uma forma de apenas treinar para outros vestibulares”, conta.

Ela ficou na lista de espera e conta que após ter sido chamada, foi na faculdade com a mãe e descobriu que teria que pagar à vista no ato da matrícula uma quantia exorbitante para o orçamento da família. “Fiquei até com medo de contar para minha mãe da vaquinha, sabia que todo mundo ia achar uma loucura. Só que eu não podia não fazer nada. Eu via a frustração da família por estar de mãos atadas, minha mãe só chorava”, relembra.

O ingresso da filha na faculdade, deixou a mãe Edna Silveira muito orgulhosa. “É um sonho que é dela. Deixei ela vivenciar isso e estou muito feliz. Não imaginava a dimensão que fosse tomar. Na hora que ela começou com a vaquinha, falei com ela que era uma bobagem. Peço perdão a Deus por não ter acreditado. Só sei que Nanda é um ser de luz e foi a vida toda. Sempre uma boa aluna, dedicada, uma filha exemplar. Estou em oração para que dê tudo certo daqui para frente”, diz.

Por Juliana Gorayeb, G1 Grande Minas