As batidas no peito estufado, os gritos e a comemoração efusiva de Isaquias Queiroz estão longe de ser uma demonstração de soberba. São as manifestações mais genuínas de quem sabe que se superou para ser, pela primeira vez, campeão mundial do C1 1000m. Nem a grande vitória num momento chave do ciclo olímpico ilude o brasileiro. Para manter o nível e subir ao pódio nos Jogos de Tóquio será preciso manter os pés no chão e a rotina de treino e suor.
Isaquias está acostumado aos holofotes. É o principal responsável por popularizar a canoagem no Brasil, muito graças às três medalhas que conquistou na Rio 2016 – uma delas, a prata no C2 1000m, ao lado de Erlon de Souza. Mas o baiano sabe que uma conquista do porte da deste domingo também atrai cobranças e pode gerar um excesso de confiança.
– A gente trabalha para ganhar. Em ano pré-olímpico é muito chato você ganhar poque fica todo mundo em cima, a imprensa… Mas eu gosto de pressão, que eu sou meio doido. Mas não é porque ganhei essa medalha que a de Tóquio está garantida. Agora é seguir treinando e não deixar o ego subir.
Todas as medalhas de Isaquias em Mundiais
C1 500m 🥇🥇🥇(13, 14 e 18)
C2 500m 🥇(18)
C2 1.000m 🥇(15) 🥉(19)
C1 1.000m 🥇(19)🥉🥉🥉(13, 17 e 18)
C2 200m 🥉(14)
C1 200m 🥉(15)
A manutenção do foco visando sempre a Olimpíada como grande objetivo foi uma lição ensinada pelo técnico Jesus Morlán. No último Mundial em ano pré-olímpico Isaquias não disputou o C1 1000m. Competiu apenas no C1 200m, em que foi bronze, e no C2 1000m, em que foi ouro – e cujo resultado garantiu vaga olímpica também para a prova individual. Nela, na Rio 2016, foi medalha de prata.
Outro aprendizado importante dessa visão a longo prazo foi o respeito absoluto pelos adversários, como o alemão Sebastian Brendel. Maior algoz do baiano desde que subiu de categoria para o adulto, Brendel até liderou parte da final do C1 1000m em Szeged, mas acabou fora do pódio. Nada que o fizesse perder a compostura.
– A gente não sabe como é a preparação dele, assim como não sabe como é a nossa. Mas chega na hora H a gente tá nas medalhas, então não pode descartar o monstro que ele é. Ele é totalmente diferenciado. Perdeu, mas mesmo assim continuou com o semblante humilde dele, me cumprimentou, conversou comigo. Isso é que o diferencia um grande atleta. Como eu falei, o trabalho não acabou aqui. Foi um pequeno passo numa grande jornada. Agora é seguir trabalhando bem no Brasil.
Antes das merecidas férias, Isaquias ainda tem um último compromisso. Vai encerrar a temporada representando o Flamengo no Campeonato Brasileiro Interclubes, de 29 de Agosto a 1º de setembro. A competição será em Brasília.
Por Helena Rebello, Marcelo Courrege e Rogerio Romera — Szeged, Hungria